segunda-feira, 11 de março de 2013


Morreu na madrugada desta terça-feira, 19 de julho 2011, aos 57 anos, a professora Marildes Marinho, do Departamento de Métodos e Técnicas de Ensino da Faculdade de Educação (FaE) da UFMG.

Vítima de acidente de carro, Marildes Marinho estava na Bahia, a trabalho, em uma aldeia Pataxó, onde concluíra, no domingo, módulo do curso de formação intercultural de educadores indígenas, que ela coordenava. Ontem era o seu primeiro dia de férias, segundo a diretora da FaE, Samira Zaidan.

Marildes Marinho era doutora em Linguística pela Universidade Estadual de Campinas, com estágio de doutorado no Institut National de Recherches Pedagogiques (Paris). Pós-doutora pela École des Hautes en Sciences Sociales (Paris), foi pesquisadora visitante no Centre for Language, Discours and Communication, do King's College (Londres). Graduada em Letras e mestre em Educação pela UFMG, era professora da FaE há 19 anos.

 

Não há ventos favoráveis para aqueles que não sabem onde querem chegar.

 

A Língua Portuguesa nos Currículos de Final de Século

Marildes Marinho

 

Para analisar esse artigo tive necessidade de saber por que ele foi escrito. Com essa resposta em mãos o texto fez sentido.

A autora fez parte de um grupo de estudos que analisou currículos de 19 estados brasileiros para que o Ministério da Educação tivesse “subsídios para a elaboração de parâmetros para o ensino da língua materna no Brasil”.

O artigo de Marildes Marinho faz parte do livro "Os Currículos do Ensino Fundamental Para as Escolas Brasileira" de Elba Siqueira de Sá Barreto (org.) que teve sua 1ª edição em 1998, ano em que, segundo consta, o PCN foi implantado, depois de uma versão preliminar em 1995.

Hoje, data da minha análise do artigo, faz 15 anos que o PCN surgiu de maneira definitiva. Não seria o caso de nova pesquisa? Estariam os estados analisados oferecendo ainda currículos tão desalinhados ou tão contraditórios entre “um conhecimento ultrapassado... ou um novo conhecimento...”?.

Toda a minha introdução do trabalho se deu diante da inquietação sobre as ocorrências reveladas e a necessidade de situar no tempo esse artigo.

Em tempos de escassa competência (no Brasil) nessa área, é lamentável a morte tão precoce de uma doutora em linguística, atuante e participativa como ela era.

Falando de parte do título – “final do século” - que deu ao artigo, fala sem querer sobre sua partida quando diz: "Poderosa porque produz a ilusão de um longo tempo, de uma longa vida e, quem sabe, de grandes feitos. Frágil, exatamente por nos sugerir a responsabilidade de realizações não alcançadas." Muito interessante.

 

O currículo sob uma perspectiva externa (contexto político/social) e interna (estudos/pesquisas).

Mesmo com a constituição dos Parâmetros Curriculares Nacionais pelo governo federal, não descontinua a autonomia relativa de estados e municípios em relação a esse domínio, e o turnover de gestores em secretarias de educação gera uma contínua interrupção dos avanços alcançados por essas secretárias. Visto sob esses ângulos, há quase uma imbricação entre as perspectivas elencados pela autora, ainda hoje.

Com relação a “longa história da disciplina” quero me deter nas décadas de 80 e 90. A renovação curricular iniciada na década de 80 teve como principal mote a oposição ao preceito militar até então vigente. Segundo Elba Barreto “tratava-se de recuperar a importância do saber veiculado pela escola como instrumento de exercício da cidadania plena e como elemento capaz de contribuir para a transformação das relações sociais vigentes.”

Dentro da desvalorização do magistério pontuada por Marildes e denunciada no final do século passado, o livro didático ascende e assume segundo a autora “ o papel de produtor das atividades para a pratica docente...” , hoje os investimentos realizados pelas políticas públicas brasileiras nos últimos anos transformaram o Programa Nacional de Livro Didático (PNLD) no maior programa de livro didático do mundo.

As condições sócio históricas das questões: “quem, para quem, para quê e como foram escritos” podem assumir funções diferentes, dependendo das condições, do lugar e do momento em que o livro didático é produzido e utilizado, nas diferentes situações escolares. Por ser um objeto de "múltiplas facetas", o livro didático é pesquisado enquanto produto cultural; como mercadoria ligada ao mundo editorial e dentro da lógica de mercado capitalista; como suporte de conhecimentos e de métodos de ensino das diversas disciplinas e matérias escolares; e, ainda, como veículo de valores, ideológicos ou culturais.

Dentro dos conteúdos da disciplina de Português, segundo a autora há uma disputa entre língua oral e língua escrita. Ainda conforme a autora, atualmente o peso da produção escrita e literária pesou a balança para o lado da língua escrita, fazendo com que a gramática mantenha seu lugar de destaque.

Embora a linguística seja uma ciência com mais de cento e cinquenta anos de idade, ela é ainda pouco conhecida, não só pelo público leigo, mas também por boa parte do meio acadêmico. Muitos confundem a linguística com a gramática, por acharem que ambas tratam do mesmo objeto: a língua. Outros adeptos da gramática tradicional, muito mais antiga que a linguística, veem nesta última uma ameaça à “pureza da língua”, por ser, segundo eles, uma disciplina por demais permissiva e tolerante com os “erros gramaticais dos falantes incultos”.

A língua ao contrário da gramática, que segundo( FRANCHI,  TRAVAGLIA,2002) “(...) é o conjunto sistemático de normas para bem falar e escrever, estabelecidas pelos especialistas, com base no uso da língua consagrada pelos bons escritores” não deve ser vista como um conjunto de regras, que se utiliza para uma boa fala e escrita. Jamais os educadores podem exigir que o aprendiz fale somente, segundo as exigências da gramática tradicionalista. Para se comunicar de um modo claro, um falante não precisa memorizar regras de linguagem. A gramática da língua é dinâmica esta sempre viva. Ser um bom aluno nas aulas de língua portuguesa que predominantemente são baseadas no ensino de gramática e que, no entanto deveriam ser baseadas na leitura, produção de texto, interpretação de textos e comentários não garante um bom domínio da língua. A boa comunicação de um falante depende da gramática natural interior que é implícita, pode ser considerada um conjunto de regras que os falantes internalizam com o tempo através do que escutam e falam, nenhuma frase é construída sem essa gramática. Já a gramática explicita é transmitida pela escola e pelos livros de gramática. Segundo Chomsky e seus discípulos a gramática é: “Sistema finito de regras que gera frases infinitas - nada mais e nada menos que todas as frases bem formadas da língua-, prova as respectivas descrições estruturais, bem como as relações entre som (representação fonética) e significado (interpretação semântica)”.( apud LUFT,s/a,34 ).

A proposta do Parâmetro Curricular Nacional de Língua Portuguesa para as primeiras séries do ensino fundamental discute a aprendizagem da Língua Portuguesa como ensino voltado para a troca interpessoal “É possível aprender, tanto sobre a linguagem verbal quanto sobre as práticas sociais nas quais ela se realiza, por meio da troca interpessoal”.

Numa perspectiva de ensino/aprendizagem crítica do ensino da língua, apresenta a leitura e a produção de texto como base para a formação do aluno cidadão. Esse aluno é incentivado a ser um sujeito critico conhecedor dos seus direitos e preparado para “falas adequadas ao contexto de uso”.

O PCN bate insistentemente na tecla da formação do cidadão que “progressivamente, durante os oito anos do ensino fundamental ... se torne capaz de interpretar diferentes textos que circulam socialmente, de assumir a palavra e, como cidadão, de produzir textos eficazes nas mais variadas situações.”

O PCN parte de uma tríade para o ensino e a aprendizagem de Língua Portuguesa na escola “... o aluno, a língua e o ensino.”

Dentro desse contexto, em relação ao aluno é correta a afirmativa Se o objetivo é que o aluno aprenda a produzir e a interpretar textos, não é possível tomar como unidade básica de ensino nem a letra, nem a sílaba, nem a palavra, nem a frase que, descontextualizadas, pouco têm a ver com a competência discursiva.”

Quanto a língua A importância e o valor dos usos da linguagem são determinados historicamente segundo as demandas sociais de cada momento. O homem é um ser histórico e o PCN dentro do mote cidadania preconiza que “Toda educação verdadeiramente comprometida com o exercício da cidadania precisa criar condições para o desenvolvimento da capacidade de uso eficaz da linguagem que satisfaça necessidades pessoais.” 

A articulação das três variáveis termina com o ensino, nossa tarefa. Sem o aluno, “objeto da ação”, ou sem a língua, “objeto de conhecimento”, o ensino não se faria necessário no contexto de “aprender e ensinar língua portuguesa na escola.”

Cabe a escola, representada pelo professor, acabar com a “mutilação cultural” que tem efeito contrário ao preconizado pelo PCN quanto a estimular a valorização do sujeito critico.

quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

PCN Língua Portuguesa

CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE LÍNGUA PORTUGUESA A proposta do Parâmetro Curricular Nacional de Língua Portuguesa para as primeiras séries do ensino fundamental discute a aprendizagem da Língua Portuguesa como ensino voltado para a troca interpessoal “É possível aprender, tanto sobre a linguagem verbal quanto sobre as práticas sociais nas quais ela se realiza, por meio da troca interpessoal”. Numa perspectiva de ensino/aprendizagem crítica do ensino da língua, apresenta a leitura e a produção de texto como base para a formação do aluno cidadão. Esse aluno é incentivado a ser um sujeito critico conhecedor dos seus direitos e preparado para “falas adequadas ao contexto de uso”. O PCN bate insistentemente na tecla da formação do cidadão que “progressivamente, durante os oito anos do ensino fundamental ... se torne capaz de interpretar diferentes textos que circulam socialmente, de assumir a palavra e, como cidadão, de produzir textos eficazes nas mais variadas situações.” APRENDER E ENSINAR LÍNGUA PORTUGUESA NA ESCOLA O PCN parte de uma tríade para o ensino e a aprendizagem de Língua Portuguesa na escola “... o aluno, a língua e o ensino.” Dentro desse contexto, em relação ao aluno é correta a afirmativa “Se o objetivo é que o aluno aprenda a produzir e a interpretar textos, não é possível tomar como unidade básica de ensino nem a letra, nem a sílaba, nem a palavra, nem a frase que, descontextualizadas, pouco têm a ver com a competência discursiva.” Quanto a língua “A importância e o valor dos usos da linguagem são determinados historicamente segundo as demandas sociais de cada momento”. O homem é um ser histórico e o PCN dentro do mote cidadania preconiza que “Toda educação verdadeiramente comprometida com o exercício da cidadania precisa criar condições para o desenvolvimento da capacidade de uso eficaz da linguagem que satisfaça necessidades pessoais.” A articulação das três variáveis termina com o ensino, nossa tarefa. Sem o aluno, “objeto da ação”, ou sem a língua, “objeto de conhecimento”, o ensino não se faria necessário no contexto de “aprender e ensinar língua portuguesa na escola.” Cabe a escola, representada pelo professor, acabar com a “mutilação cultural” que tem efeito contrário ao preconizado pelo PCN quanto a estimular a valorização do sujeito critico. " " * Texto do PCN